Lalo, Lola, Carla e um “grande momento” 30.01.2008 15.01
“Encanta-me ver A Lola. Divirto-me. Vejo-o quase sempre”. A frase podia ser de um argentino, um uruguaio ou (num futuro próximo) de cidadão de Alemanha ou Brasil, países onde também se verá a atira argentina que agora se emite por América e A Tv. Mas as palavras são de Carla Peterson, a protagonista da exitosa série que falou com Em Perspectiva. “Vou recordá-lo toda minha vida como um grande momento. Um dos momentos mais importantes, divertidos e felizes nesta vida de atriz que elegi”, disse, e contou sobre sua carreira, sobre A Lola, e mais que nada dos vaivenes de ser homem e mulher com um sozinho corpo...
ALEJANDRA BORQUES: A comédia argentina “A Lola” conta a história de Ramiro “Lalo” Padilla, um seductor incurable, diretor de uma revista de modas que, pela vingança de uma ex despechada, amanhece num dia encerrado no corpo de uma mulher. É seu novo corpo. Lola empreende o caminho de descobrir o universo feminino semeado de obstáculos para um machista empedernido como ele. “A Lola” sai ao ar desde o 28 de agosto de 2007 pelo canal de ar América, de Argentina, sendo a única ficção de dita sinal ao momento de sua transmissão. Em Uruguai começou a emitir-se faz nuns dia por “A tv” às 22.00 horas. Em Argentina é um sucesso, recebeu vários prêmios e está sendo vendida a vários países. Estamos em linha telefônica com Carla Peterson, protagonista de “A Lola”, que quiçá nos possa contar algo mais sobre esta personagem que tanto está dando que falar em Montevideo e na região.
Carla, tem a cifra dos capítulos que ja estão gravados?
CARLA PETERSON: É um prazer para mim ter contato com a gente que está vendo o programa. Estou no capítulo 106, 107.
AB – Em Montevideo recém arrancou e os oyentes têm no primeiro mês de apresentação de “A Lola” e está-lhe indo muito bem no que tem que ver com níveis de audiência. Mas falemos de “A Lola” e de que implicou unir numa sozinha pessoa a um homem e uma mulher.
CP – O desafio era muito interessante para mim por muitíssimas coisas. Era um primeiro protagónico para mim, uma personagem muito ampla porque era estas duas pessoas num sozinho corpo. E o desafio também era ver que se nos ocorria a todos para contar esta história que são 150 capítulos e que tinha que ser uma personagem que reunisse as condições de qualquer outra personagem que atrai ao público, que gosta e que se divirta. E ao mesmo tempo contar uma história de amor. O desafio acho que conseguimo-lo entre todos, porque é uma personagem que se conta através da mirada dos outros. Porque se de um dia para o outro a vos mudam-te o corpo não sos muito consciente desta nova imagem que dás. Todos os demais contam isto que a minha personagem lhe tinha passado. Armar minha personagem do que os demais armassem sobre mim, sobre esta coisa que para mim era nova... Acho que isso foi bom, que o conseguimos. De fato, a grande intriga para todos era se realmente esta personagem resistia essa transformação e tantos capítulos. Eu, que já caminhei muitos mais e nos segue indo muito bem em Argentina com a atira e a gente segue nos vendo, posso o comprovar. Ao mesmo tempo, no pessoal, posso dizer que minha personagem me fazer divertir muito. O tempo todo encontro-lhe coisas novas que fazem que cresça e que seja uma personagem grande para actuar, assim que estou muito contente.
SANTIAGO DIAZ: Como o viveste desde que foi teu primeiro protagónico? Porque fizeste muita televisão, “Montanha Russa” no ano 94 e personagens fortes em “Sos minha vida”, “São Amores”, e outros papéis, mas não te tinha tocado nenhum protagónico. Como viveste isso?
CP – Eu em algum momento pensei que me podia chegar a passar. Chegou-me uma personagem para fazer isto, diferente ao que sempre me imaginei que me podia tocar fazer. Não tinha pensado nunca na possibilidade de fazer esta personagem, que em realidade não é feminino, por exemplo. Surpreendeu-me, mas o que sim me ajudou muito a trabalhar como trabalhei foram as coisas que me dizia a gente. Eu já tinha trabalhado muito, tinha bom treinamento, como qualquer desportista. Eu sempre comparo a atuação com o desporto. Um tem que estar concentrado, a passar bem, pôr o bom e também dependés muito dos demais jogadores. Para mim não foi um primeiro protagónico e um sucesso comum e corrente. A gente felicitou-me por isto que me chegou, depois porque me saiu bem e porque estava muito contente de que me tivessem dado esta oportunidade. Recebi prêmios cá em Argentina. O programa também recebeu muitos prêmios e a gente estava muito contente. E acho que isso não passa sempre e que todos estejam tão contentes de que te vá bem. Podés ganhar prêmios e fazer algo que esteja muito bem, mas a gente pode ser algo mais. Em meu caso, eu acho que foi único. Vou recordá-lo toda minha vida como um grande momento. Um dos momentos mais importantes, divertidos e felizes nesta vida de atriz que eu elegi. Não sê se muitas vezes os atores temos esta possibilidade de ver tanta gente desfrutando do que a um lhe passa.
AB - Como construíste Lalo e Lola? Como construíste a este homem e a esta mulher?
Li que ensaiaste muito com um amigo as posições. É muito cômico ver-te sentada de pollera e tacos quase como um homem, praticamente durante toda a atira.
CP – Fiz milhares de coisas. Depois o importante era tomar uma decisão, sustentar isso que elegeste, e lhe somar coisas. Mas sabia que começava e não podia voltar para atrás. Também o que passava a mim lhe passava muito a esta personagem. Tinha que entrar aí segura do que ia fazer e seguir. À personagem também lhe passava isso. E bom, desde falar com muitos amigos atores e atrizes, também tantos anos de trabalhar em televisão te dão coisas que vos já sabés. Então é somente pensar que é o que vais dizer. Depois ver filmes, ver comédias que têm que ver com estas coisas de feitiços. Observar. Eu sabia que ia estar rodeada de muitos homens que me iam poder ajudar. Já o ter a Luciano em frente era meu espelho perfeito, porque tinha a um grande galã de quem tomar de exemplo... E aos demais atores muito masculinos. Todas essas coisas me davam segurança e fiz isso para armar a personagem. Num momento pensei em ver que me passa se saio vestida de homem, mas não cheguei a fazer essas coisas. Sim praticava com roupa de homem. Parava-me, olhava-me no espelho. Perguntava, perguntei muito e observei muito. Depois também passa algo que é que quando vos hacés um programa diário, a personagem é o que vai sucedendo todos os dias. Terminás e vais-te a tua casa. Ao outro dia volvés e já está a personagem e todo o que começa a passar é o que passa todos os dias indo trabalhar. Confiei muito em isso, na estética do programa e na gente que trabalha ao lado meu.
SD - Que coisas rescatás de “A Lola” para que tenha tanto sucesso? Que particularidades tem? Eu vejo que se afasta do tradicional e que o lugar de trabalho deixa de ser um lugar transitorio para se transformar num lugar muito importante dentro da atira.
CP – O que me impressionou quando vi o programa piloto com a ideia de Sebastián Ortega era a estética que tinha, a maneira de contar e isso foi o que me atraiu. Pensei que se isto se sustenta durante todo o ano vai ser incrível. Também sair do convencional, da cotidianeidad, de ver à gente comendo em sua casa e as ver em onde um geralmente passa o maior tempo de sua vida, que é trabalho. Em sua casa um passa pouco tempo... Os fins de semana, que é o que geralmente não se vê nas atiras. Era muito interessante ver este escritório, este lugar que é como um plano onde entramos. É um grande palco onde a cada um entra. Acho que se sacamos-lhe as paredes a mim me faz lembrar a Dogville (filme de Lars von Trier), com essas marcas no andar e um entra e actua sem tantas coisas, e ao mesmo tempo há muito. A luz, a música, eleger até os separadores de um passe de tempo, que são diferentes... Todo isso faz que seja diferente ao que geralmente se vê.
AB – No guião há muito humor e isto também é um elemento que se traz, crio eu, um pouco de “Sos minha vida”. Quiçá é diferente, mas é um ingrediente que o tem universalizado a outros públicos.
CP – Eu acho que nesses outros programas que trabalhei aprendi à introduzir algumas coisas. Também me deram o espaço para poder o fazer, e começar a criar outros códigos, dentro do que pode ser uma telenovela ou uma comédia romântica. Cá passa isso. Também é muito importante a eleição dos atores que há nesta atira. Porque um não só lhe dá vida a esses livros senão que também contribuem muitíssimo. São atores muito inteligentes, sabem muitíssimo e eles também agregam muito a estes livros, que o que se têm é uma estrutura muito rápida, variada, e uma coisa os vai levando a outra na cada capítulo.
SD – Sabemos que fizeste muito teatro independente e que gostas muito da atuação no teatro. O boom de “A Lola” afastou-te um pouco disso ou te deixou fazer ambas coisas?
CP – Em realidade o único que estou fazendo é “A Lola”. Não tenho muito tempo nem me ficariam forças para fazer outras coisas porque requer muchísimno tempo... são muitas cenas. Também gosto de desfrutar do que estou fazendo. Por outro lado, eu trabalhei durante muitos anos com um diretor que morreu a princípios de ano, assim que essa coisa que tinha de teatro independente... o grupo não pôde seguir adiante. Não chegou a ver “A Lola”, mas estaria muito contente que eu estivesse fazendo somente isto e não fazendo teatro. Para fazer teatro não se requer somente as vontades. Requer-se investigação e dedicación, assim que quando termine também me vou dedicar. Não sê se fazendo um protagónico um pode fazer realmente tantas coisas depois.
AB - Estás falando de quando termine. Fica ainda um bom trecho, porque gravam até março.
CP – Ficam 40 ou 45 capítulos. Terminaremos de gravar talvez em março ou princípios de abril, mas já nos estamos despedindo.
AB - Quanto vai mudando a personagem ao longo da atira, do começo até o final? Já tenés, com mais de 100 capítulos, uma ideia de que se foi modificando... Não foi só o rating senão a mesma história que se vai escrevendo...
CP – O bom disto era que também era um programa de uma hora e meia que quando lho elegeu para produzir já sabiam que ia ser um sucesso desde o primeiro momento. Eles sabem muito bem quando as coisas são muito boas. Eles levaram muitas novelas afora e esta novela tinha algo que ia para além do que passasse em Argentina. De fato, nunca teve uma exigência de que temos que fazer muito rating. Sim tinham que ser boas as histórias e o que passasse na cada capítulo. Isso te dá a tranqüilidade de que não vai baixar a qualidade do produto porque às vezes o público não seja exigente. Inesperadamente há coisas que se põem muito de moda e se leva a esse lugar, mas o que garantiam era que o produto ia ser buenísimo e que a história era muito boa. Já tinham estudado e já tinham trabalhado sobre como projetar estas personagens ao longo de 150 capítulos. Isso é buenísmo, porque sabés que tenés uma base que é sólida e que vais poder transitar sem que tenha mudanças inesperadamente e que tua personagem se converteu em outra coisa porque não gosta.
SD - Que sentis quando te vês fazendo essa personagem? Vês-te ao ar ou dantes?
CP – Vejo-me quando sai ao ar. Não me vejo dantes. É mais, geralmente não revisão as cenas. Os capítulos de “A Lola” têm algo: depois que nós fazemos todas nossas coisas e payasadas e depois que a equipa trabalha todo o dia sem parar, há outra equipa trabalhando que faz a pós produção e o edita. Armam-no, o despliegan e voltam-no a colar. Então surpreendo-me muito quando o vejo. Vejo-me, encanta-me, divirto-me, diverte-me ver aos demais atores fazendo coisas que talvez já as li ou gravei, mas que depois lhe põem um som ou uma música e muda muitíssimo. Encanta-me ver “A Lola”. Divirto-me. Vejo-o quase sempre e também isso me ajuda no trabalho de todos os dias... em que coisas tenho que melhorar.
AB - Creés que após isto muitos homens entenderão melhor o que é atravessar a visita ao ginecólogo, depilarse ou ter a menstruación?
CP – Eu acho que não. Acho que riem-se mas nunca vão ter ideia do que são todas essas coisas... Jamais. Aos homens cá divertia-lhes muito ver isso. Nós já estamos em outra instância do programa mas isso era muito divertido e estava muito bem contado. Também tinha que ter muito cuidado em como contamos estas coisas que às vezes podem molestar.
SD – O fato de que “A Lola” seja o único programa de ficção de América lhe agrega alguma particularidad mais a tudo isto?
CP – Acho que não.
AB – Mas sim o fato de que era um ano no que se fez pouca ficção em Argentina.
CP – Isso sim. Não tinha nada que ver com o canal. Talvez o bom foi demonstrar que se tinha algo bom, a gente o ia ver e não fazia falta que fosse o canal de maior audiência. Isso também foi algo importante para mim dos lucros do programa: ter uma audiência quase fixa. Muita gente vê-o em todo o país.
AB – E agora se agrega fora de fronteira...
CP – Sim, agrega-se Brasil e outros lugares em que vai começar. Eu já o vi dobrado em vários idiomas, em francês, alemão, espanhol neutro, dobrado por mexicanos e chilenos. Acho que é um produto interessante para que todos o que o queiram fazer o façam, porque a ideia é buenísima.
AB - Pudeste desprender-te de “Contu” facilmente? CP – Sim. Adorava também esse programa. Geralmente, ter bons colegas de trabalho faz que um também trabalhe melhor. A atuação se contagia. Sempre tive gente para olhar e admirar. Pensei que o ia estranhar muito e apareceu isto. Um finco saca outro finco. Depois apareceram coisas melhores, digo melhores por uma oportunidade maior.